Conversas - #1
- 25 dez, 2024
Foto de gustavo nacht na Unsplash
- Olá, seu Elias. Tudo bem com o senhor?
- Olá, Eduardo! Bom dia! Eu estou ótimo, e você? Tudo bem?
- Tudo. Ou, como diz um amigo, “estou melhor do que mereço”.
O seu Elias é um homem grande, forte, com aquela constituição de quem trabalhou pesado na juventude. Hoje ganha a vida com sua pequena barraca de lanches - doces e salgados - bem ao lado do ponto de ônibus. É ele mesmo quem prepara os lanches do café da manhã - relativamente famoso - da região.
Famoso não apenas pelo café bem passado, mas pela boa conversa que o acompanha.
Já o Eduardo tem 20 anos e acaba de passar na faculdade. Ainda tem aquele espírito jovem
de quem vai mudar o mundo. Conhece o seu Elias desde o ensino médio, quando se mudou para
a região.
- Ha ha… gostei da frase. Ela me lembrou de um adesivo que vi em um carro recentemente.
- Como assim?
- Era um adesivo com a frase: “Você merece ser feliz”. O que você acha?
- Da frase? Humn… Acho que tem uma boa mensagem, tipo, algo positivo para dar uma “força” para quem estiver lendo.
- Também pensei assim no início, mas depois de pensar um pouco mais, acho que ela esconde um grave defeito.
Apesar da diferença de idade, seu Elias e o Eduardo sempre conversaram bastante e sobre tudo enquanto o ônibus não chegava. O seu Elias não teve muita educação formal, mas era culto - orgulhava-se de gostar de ler - e sábio. Tinha muito “bom-senso”, por assim dizer. O tipo de bom-senso que se desenvolve naturalmente ao longo de muitos e muitos anos.
- Veja bem, - continuou seu Elias - nós merecemos algo quando fazemos algo em troca. Por exemplo, eu mereço o meu salário quando trabalho por ele. É como um direito, entende?
- Ah, agora entendi. Então a frase do adesivo tem uma mensagem bem diferente da frase do meu amigo. É como se ela dissesse que eu mereço ser feliz não importa o que eu faça. É isso?
- Isso! Pelo menos é o que parece subentendido, não é? E podemos ir além. E se você não for feliz, de quem vai reclamar? Já que você merece, deveria poder reclamar com alguém que teria a obrigação de te fazer feliz, não é?
- Entendi, entendi. Estava aqui pensando que poderia ser algo do tipo “direito à vida”, mas acho que é ainda mais complicado. Se o Estado tivesse essa obrigação, como ele teria certeza que alguém é ou não feliz?
E se você não for feliz, de quem vai reclamar?
- Lá vem o seu ônibus.
- Sim. Hoje o senhor está inspirado, hein? - Eduardo riu enquanto ainda pensava sobre o assunto. - Acho que a viagem de hoje vai ser rápida. Até mais seu Elias!
- Até mais, meu jovem. Tenha um bom dia.